Como Exportar o Design Gráfico?
A própria pergunta induz em erro. Dá a entender que estamos a falar de um produto material. No entanto, não se pode vender o design gráfico como se fosse um mero objecto. O design gráfico não é uma cadeira, um vestido ou um bidão de petróleo. Está demasiado dependente do contexto local, da língua e da sociedade. A única maneira de o exportar é como prática cultural. Promovendo-o entre os diversos designs de cada país, entendidos também eles como práticas culturais. Promovendo as instituições culturais nacionais ligadas ao design – escolas, associações, revistas, palestras, blogues, etc. É assim que os designers suíços, holandeses, ingleses, italianos e americanos “vendem” o seu design. Se existem designers portugueses conhecidos “lá fora”, é porque “lá fora” estas instituições são criadas, mantidas, promovidas, acolhendo o talento internacional que encontram pelo caminho.
Nesse aspecto, a arquitectura portuguesa é um exemplo a seguir. Há uns tempos, na televisão, Siza Vieira referiu-se às obras de Fernando Távora como contribuições para o que ele chamava o “debate da arquitectura.” Efectivamente, além das próprias obras contribuirem para este debate, há cada vez mais arquitectos a escreverem sobre arquitectura – e mesmo design – em publicações especializadas e na grande imprensa. Em contrapartida, poucos designers portugueses falariam do “debate do design.” Se existe algum, ele é internacional e o nosso Design limitou-se a assistir passivamente.
Digo “limitou-se” porque as coisas estão a mudar. Há cada vez mais designers portugueses. E essa comunidade crescente está cada vez mais sedenta de representação efectiva na sociedade. Mais participativa, mais activa do que era há uma década atrás, e isto revela-se principalmente através dos blogues criados e mantidos por designers. Tal como foi referido por Luís Inácio (também ele blogger), estes blogues vão formando uma comunidade, vão formando ligações. Se o DesignObserver e o UnderConsideration, entre outros, revolucionaram o jornalismo de Design, tornando-o mais regular e mais acessível (sobretudo no preço), os blogues portugueses vêm ocupar um vazio, onde as publicações são raras e pouco duradouras.
Apesar de tudo há a tendência para não levar os blogues a sério e para minimizar a necessidade (e a possibilidade) dos designers escreverem sobre o design. Num debate da APD no Porto, Henrique Cayatte chegou a afirmar que a crítica de design devia ser deixada para os jornalistas e para os teóricos vindos de outras áreas. Tais afirmações contrariam a própria história do design, onde a maioria dos designers conhecidos foram também teóricos e críticos do design: William Morris, Eric Gill, Muller-Brockmann, Rudy VanderLans, Erik Spiekermann, Jan Tschichold, Jeffery Keedy, etc., etc.
É urgente promover em Portugal a escrita sobre design – por designers e não só. O design português só será exportável quando começarmos a entende-lo como a prática cultural que é.
in http://ressabiator.blogspot.com/
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